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A busca do desenvolvimento pleno
Micheline Flak, a autora que norteia o estudo diz que “O ser humano, quando chega ao mundo, não está terminado. A educação tem por objetivo desenvolver suas potencialidades para levar-nos à compreensão de nosso lugar na Terra e de nossos vínculos com o Universo. A escola não tem por finalidade fazer de nós somente profissionais, mas também pessoas em evolução ao longo da vida”.
Pensando em formação para vida, utilizamos a neurociência como aliada, pois ela nos diz que o cérebro muda de forma de acordo com as áreas utilizadas. Dessa forma, o que você faz molda seu cérebro. Esse órgão é extremamente plástico e treinamentos mentais e neurológicos podem produzir mudanças na estrutura e no funcionamento. Habilidades emocionais são partes importantes da chamada função executiva. A função do lobo frontal é o controle do comportamento. Ali, estratégias de decisões de longo prazo demonstram controle sobre o comportamento de manter e atingir metas.
O Estresse
Sabemos que, quando certo tipo de estresse ou algo perigoso ocorre, é normal que certos sistemas fisiológicos respondam automaticamente. Em nossa cultura moderna, a verdade é que dificilmente nos confrontamos com os perigos evolutivos. No entanto, estes mesmos sistemas são recrutados quando a nossa autoestima pode ser questionada ou quando um filho está sendo intimidado (medo ou stress). Eles não são ameaças físicas para a nossa sobrevivência, mas sequestram o mesmo mecanismo biológico. Assim, causa-se o ato falho ou a resposta automática.
O potencial autocontrole de um indivíduo se torna limitado à medida que aumenta o nível de estresse e o cansaço. É esse tipo de exemplo que esclarece a importância da aprendizagem social-emocional, necessária para ajudar a modular os circuitos. Para tanto, as técnicas RYE nos dão ferramentas que nos ajudam a balancear as energias, focalizar a atenção, afrouxar as tensões físicas e mentais e gerar um melhor ambiente para trabalhar em sala de aula.
As técnicas RYE em sala de aula
As técnicas de Yoga na Educação foram definidas pela Dra. Micheline Flak, que realizou experiências de exercícios de yoga em uma sala de aula em 1973. Ela tinha o objetivo de melhorar o bem-estar e o rendimento escolar dos alunos. O resultado disso foi muito benéfico e, em 1978, ela fundou o RYE, que consiste em exercícios de consciência, respiração e relaxamento. Estes eram praticados em alguns minutos durante as aulas.
As técnicas utilizadas em sala de aula são compostas por uma série de etapas que dão condições ao aluno para que a aprendizagem se aprimore. São seis etapas, baseadas nas oito de Patañjali, que vão criar diferentes condições para a aprendizagem. As etapas de Patañjali estão presentes na prática universal do Yoga, mas na escola utilizamos só as seis primeiras,. Estas são: viver juntos; eliminar toxinas e pensamentos negativos; manter uma postura ereta; respirar bem e ter calma; relaxamento e concentração em um ponto.
O objetivo
O objetivo do RYE consiste em apresentar aos jovens exercícios que os auxiliem a aproveitar melhor sua energia e a relaxar quando necessário. Assim estamos ensinando-os a controlar o estresse, a despertar a criatividade e a aumentar a autoconfiança. Esses exercícios se dividem da seguinte forma:
- Viver juntos: fazer com que a criança tenha a sensação de pertencer a um grupo que tem o mesmo objetivo. Isso permite a formação do espírito de equipe e desenvolve a responsabilidade. Lembramos que o professor é o responsável pelo ambiente e pelo ânimo das crianças.
- Limpar a casa: consiste em eliminar toxinas e pensamentos negativos através do pensamento positivo e do cultivo de uma mente calma. Os exercícios de desbloqueio, abertura e irrigação do cérebro aliviam muitos temores e angústias.
- Adotar uma postura correta: como a coluna é considerada a “árvore da vida”, seu alinhamento de forma correta afeta o comportamento psíquico e saúde física das crianças. Manter a coluna ereta estimula a autoconfiança e permite a movimentação do diafragma, melhorando a oxigenação do cérebro e do corpo em geral.
- Respirar bem, ter calma: os exercícios respiratórios podem acalmar ou energizar as crianças. Assim, os objetivos dessa etapa procuram fazer com que as crianças tenham consciência da respiração e saibam quando utilizá-la.
- Relaxamento: o cérebro humano consegue memorizar o que foi aprendido através do descanso. Por isso, durante as aulas é necessário criar pausas no tempo pedagógico. Isto é para que as crianças possam processar o conteúdo que lhes foi transmitido. Por isso, pequenos espaços de relaxamento permitem ao cérebro digerir e assimilar as informações recebidas.
- Concentração: busca fazer com que as crianças possam se concentrar, serem capazes de prestar atenção e escutar para serem capazes de reter o conhecimento. Se divide em duas etapas: acalmar a mente dispersa, concentrando-a em um único ponto e reproduzir as sensações e conceitos interiormente e de maneira consciente (através de sons, cheiro ou sensação táctil), para que o conhecimento seja um saber vivo.
Um pouco mais sobre
Intervenções comportamentais podem produzir alterações cerebrais mais específicas do que qualquer intervenção biológica (como um medicamento, por exemplo), porque as primeiras têm a capacidade de afetar circuitos cerebrais muito específicos. Qualidades como paciência, calma, cooperação e bondade realmente devem ser consideradas como habilidades que podem ser treinadas.
O cérebro e a experiência
Através dos conceitos da neurociência, que mostram que o cérebro é plástico e se desenvolve em resposta à experiência, tentamos esclarecer a necessidade de dar condições ao corpo para receber uma aprendizagem. Para isso, utilizamos técnicas que permitem a “calmaria cerebral”.
O córtex pré-frontal é absolutamente fundamental e chamamos-lhe uma zona de
convergência de afeto e cognição ou pensamento e sentimento. Também sabemos que as emoções negativas irão interferir em operações cognitivas que estão ocorrendo no córtex pré-frontal. A implicação aqui é que, se você pode diminuir sua ansiedade ou se você está aprendendo habilidades para se acalmar, você vai melhorar a função do córtex pré-frontal.
Essas são habilidades que estabelecem bases para todas as aprendizagens futuras de regulação da emoção e para o funcionamento social.
RYE: um aprofundamento sobre
Com atividades orientadas e sempre buscando prestar atenção ao momento presente, as técnicas com vertentes no yoga permitem que nos concentramos em uma experiência sensorial (som, tato, olfato). Os efeitos dessa prática produzem a redução dos sintomas, como o da ansiedade, que interfere nesse tipo de memória de trabalho (considerando que, quanto mais ansiosa uma pessoa é, pior o desempenho da memória de trabalho).
As práticas das técnicas RYE auxiliam na eliminação dos sintomas de ansiedade e estresse, ajudando na melhora da autoestima e tornando a mente tranquila e vigorosa. Também favorecem a memória forte e viva e exigem que a pessoa conheça e valorize seu corpo em toda sua constituição. Assm, colaborando na construção de uma pessoa saudável, socialmente ativa e mentalmente atenta. Fortalecendo essa prática, o estudante se torna mais apto e atento aos conteúdos ministrados pelos professores, sem estresses e desatenções (desvios dos quais a maioria é vítima constante). Também serão menos abalados por ameaças que ocorrem no seu ambiente, melhorando a emoção e também a cognição. Percebo que, para uma escola que forma para a vida, estar atenta às necessidades dos estudantes de desenvolver a força mental, habilidades psicomotoras e emocionais viraram prioridade.
“No fundo, do real em si não conhecemos nada.”
Claude Lévi-Strauss
Bibliografia
Flak, Micheline. Yoga a educação: Integrando corpo e mente na sala de aula/ Micheline Flak e Jacques de Coulon; tradução do francês Markus J. Weininger, Noemia G Soares. –
Florianópolis: Comunidade do Saber, 2007. 144 p.
online em:
Arenaza, Diego. 2002 . Site: Yoga na Educação: http://www.ced.ufsc.br/yoga
R.Y.E. Recherche sur le Ioga dans l’Education. http://www.rye-yoga.fr/
By Rachael Jefferson-Buchanan, B.Ed (Hons), MA Lecturer in PE, Dance & Primary
Professional Practice at Bath Spa University. http://www.ryeuk.org/articles/
Daniel Orlandi, pedagogo, neuropsicopedagogo, praticante de yoga e técnicas RYE na sala de aula.
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